terça-feira, 24 de janeiro de 2012

ÍNDIA E UMA BOA BALADA

Simplesmente excelente a belíssima exposição "Índia" no CCBB do Rio. Aproveitei o feriado desta sexta-feira para dar uma conferida e o resultado foi muito melhor do que o imaginado, apesar do CCBB nunca ter me decepcionado. Primeiro porque eu e meu namorado optamos por fazer a visita mediada por uma historiadora super jovem e simpática, que foi o toque especial do nosso tour. Foi uma verdadeira aula sobre cultura indiana, mas não aquela coisa chata de visita guiada, e sim um grande bate-papo no qual todos puderam debater, dar suas opiniões e falar um pouquinho sobre o que sabiam de cada assunto, inclusive as crianças, que muitas vezes eram as que mais participavam! Então, se puderem garantir uma vaga na visita mediada, com certeza não vão se arrepender! E em segundo lugar porque a exposição tá super completa, passando por religião, invasões, diferenças étnicas, muita arte (é claro), bollywood, e até obras de arte de artistas indianos contemporâneos, bem interessantes. Um show! Infelizmente a exposição estará no CCBB do Rio somente até o dia 29/01 (este domingo), então quem quiser aproveitar acesse o link e programe-se: http://www.bb.com.br/portalbb/page511,128,10154,1,0,1,1.bb?codigoEvento=4392.

E por falar em cultura indiana, que lembra hinduísmo, que lembra vegetarianismo, do qual não sou adepta mas sim uma eventual admiradora, o fim de semana foi ainda mais interessante com a visita ao Balada Mix da Olegário Maciel, na Barra, restaurante especializado em saladas, sucos e sanduíches. Mas como já disse que de vegetariana não tenho nada, minha irmã recomendou o belíssimo sanduíche Itanhangá, de salmão defumado, acompanhado por salada Caprese, e eu topei na hora. Que delícia!!! O preço é até um pouco salgado, mas pedimos um só sanduíche, que já veio com a salada, mais uma porção de batata noisette, e foi super bem servido, deu para nós duas tranquilamente (e quem nos conhece sabe que comemos muiiiito bem! Rs!). Além de comida boa, ambiente bem bacana, fresquinho, ideal para noites de verão!

sábado, 21 de maio de 2011

Judas & Cia partem em caravana para o Monster Ball de Gaga. Quem mais quer ir?

Ontem tive uma tempestade cerebral com a minha irmã a respeito do novo clipe da Lady Gaga, "Judas". Primeiro assistimos ao clipe todo, sem entender quase nada do que a letra dizia (não conseguimos logo de cara decifrar as palavras em inglês cantadas por ela), e depois buscamos a letra e a tradução para pensarmos um pouquinho a respeito, já que o clipe, desde antes do seu lançamento, prometia ser ultra polêmico. A primeira impressão que o clipe me causou, sinceramente, foi de medo. Muito medo (rs!). Parecia uma montagem de vários filmes de terror a que já assisti, com muito psicodelismo e uma melodia bem chiclete. Não tem como não terminar de assistir sem ficar com aquele "Judaaas, Judas-ah-ah-ah!!!" na cabeça. Mas eu confesso que o fato de não ter muita intimidade com o mundo da música pós-moderno aumentou bastante a sensação de estranheza da minha parte, o que já não aconteceu tanto com a minha irmã, que adora música e tá sempre por dentro de tudo o que tá rolando no cenário.


Mas o fato é que ambas, depois de analisarmos letra, música e vídeo, ficamos nos perguntando: por que diabos alguém faz uma música para declarar amor a Judas (neste caso, o personagem bíblico)??? Quero deixar claro aqui, em primeiro lugar, que não tenho nada contra a cultura pop, aliás adoro como uma boa cria dos anos 80, e de que este texto em nada pretende ser uma crítica musical porque, como já disse acima, eu não entendo/participo de quase nada no cenário musical atual. Este blog se destina apenas a compartilhar idéias e questionamentos que rondam minha cabeça todos os dias e, quem sabe um dia, se o blog se popularizar, poder debater estes pensamentos com outras pessoas que concordem ou discordem do que aqui é exposto. E podem discordar MESMO porque o que eu a-do-ro um bom debate, contanto que seja respeitoso e produtivo (posso até discutir futebol, religião e política, mas tem que valer muito a pena!!!).


Mas, voltando à Gaga, quando a conheci, comecei a formar a imagem de uma artista possivelmente revolucionária, questionadora, aquele tipo de gente que adora jogar M no ventilador e chocar a sociedade com verdades que todos querem empurrar pra debaixo do tapate. As comparações com Madonna se tornaram inevitáveis e, sinceramente, acho até muito mais cabíveis do que na época da Britney porque, Madonna, muito além do sex appeal marcante que fez a ponte entre a diva e a princesinha do pop, significava isso: choque, questionamento, auto-afirmação de uma nova geração que necessitava de mudança, de novos conceitos. E acredito que eu e muito outros achamos que Lady Gaga estivesse chegando com tudo para chacoalhar esse comodismo desse ainda início de século XXI. Comecei a pensar que talvez toda essa declaração de amor a Judas tinha que ter algum grande sentido por trás que nós não estávamos conseguindo detectar.


Lembrei daquele filme "A Última Tentação de Cristo", que apresenta uma outra versão para a suposta traição de Judas. No filme, na verdade Jesus teria confiado a Judas a tarefa de "traí-lo", ou seja, entregá-lo ao exército Romano porque seria necessário para que tudo acontecesse da forma como tinha que acontecer mesmo (eu interepretei do filme que Jesus pediu que Judas desse essa forcinha para que ele não caísse na tentação de fugir para uma vida a dois com Maria Madalena, mas não sei se a minha interpretação está correta). Até peguei aqui no google o diálogo em que Jesus convence Judas a cumprir este papel: "A mim coube a parte fácil, que é ser crucificado. A você, a mais difícil, que é ser o traidor. Você é o mais capaz, o mais forte e o escolhido!". Ou seja, de acordo com a versão do brilhante Martin Scorsese, Judas foi um cara ultra bacana, que sacrificou a sua reputação para sempre em prol de ajudar o cordeiro de Deus a lavar os pecados do mundo.


Eu pensei com a minha irmã: taí, com certeza é por isso que a Lady tá tão apaixonada por ele! Porque ela está vendo Judas da mesma forma que no filme, como um cara super injustiçado. E na verdade foi exatamente isso que ela disse em entrevista a um programa de TV norte-americano. Ela explicou que, quando apresentou a nova música no último show, ela perguntou à platéia "Quem nunca se sentiu injustiçado? Quem nunca se sentiu como um Judas?". OK. Levantar uma bandeira contra toda e qualquer injustiça é nota 10. Mas porque Judas????? Essa pergunta não saía da nossa cabeça, mesmo depois de tantos dados. De onde saiu essa idéia de fazer uma declaração de amor a um dos personagens mais polêmicos da história???? Do nada???? Estava muito difícil de pensar na concepção da idéia da letra da música desde o início, como algo que foi fruto de uma iniciativa de protesto contra as injustiças e para isso colocando num pedestal aquele que pode ter sido um dos maiores injustiçados de todos os tempos. Estava difícil imaginar esta, ou qualquer outra possível concepção da música. Poxa, me desculpem mesmo fãs da Lady Gaga (se é que alguém vai ler este post algum dia!), mas pareceu a nós muito mais plausível a idéia de que hoje o que importa é chocar a qualquer custo, apresentar uma idéia que seja MUITO original para CAUSAR, do que a imagem de alguém acordando um belo dia com um só pensamento na cabeça: preciso levantar a bandeira contra as injustiças e vou usar a imagem de Judas como garoto-propaganda.


Pareceu muito mais coerente a idéia de uma reunião entre produtores musicais e outros integrantes do Show Bizz que administram a carreira da cantora na qual se discutiram idéias de como manter essa imagem chocante e revolucionária que são sua marca registrada. E temos que admitir que mexer com temas bíblicos dá pono prá manga fácil, fácil. É muito fácil imaginá-los pensando: "Bem, Madonna, em sua época, fez 'Like a Prayer'. Pois a Lady Gaga irá além: vai dar a cara a tapa para defender um dos homens mais condenados em toda a história, e ainda vai encarnar Jesus e Maria Madalena, tudo em uma música só!!!". Só que, sem querer defender, mas já defendendo, e com todas as críticas à parte, Madonna chocava sim e muito, mas não porque encarnava Maria, João ou José, ou porque saía em defesa do personagem mais polêmico em que pudesse pensar. Madonna encarnava ela própria e grande parte de toda uma geração de adolescentes que queriam menos repressão a sua sexualidade, que ansiavam por poder assumir uma gravidez sem serem relegadas à escória da sociedade, que precisavam dar um tempo do mundo da razão para aproveitar mais a vida, vestir roupas coloridas e acreditar em sonhos. Mas, entoar "Estou apaixonada por Judas!"... O que isso significa, de verdade? O que isso representa? Que mensagem pode-se tirar, a sério, desta música? Tenho certeza que os fãs de Gaga não se decepcionaram, porque ela manteve a mesma linha "Cadeira Elétrica" e o clipe não deixou nada a desejar: foi uma mega produção. Mas e o conteúdo? O que significa? O objetivo é chocar por chocar?


Eu tenho que confessar que este post terminaria de uma forma bem diferente do que vocês lerão daqui pra frente. Por uma feliz coincidência (para quem acredita nelas) ou por decisão lá da diretoria em me ensinar uma lição, hoje eu estava zapeando quando me deparei com a transmissão da turnê de Lady Gaga, "Monster Ball", pelo HBO. Consegui pegar o show desde o início e vi até o fim. Completamente encantada. Quase que embasbacada mesmo. Ao final do show (que aconteceu no Madison Square, em Nova York), pude tirar várias conclusões, que podem ser resumidas em dois grandes grupos. Um: NUNCA entre em uma tempestade cerebral sem estar preparado para encarar uma tempestade. Isto é: colete dados suficientes para poder formar uma opinião. Opinião por opinião é, como se diz por aí, igual a bunda: cada um tem a sua. Mas uma opinião bem embasada, fruto de uma pesquisa e de várias reflexões sobre o assunto, é difííícil.... Eu sei que essa conclusão pode parecer meio óbvia, mas a gente dá opinião a torto e a direito o tempo todo, não é verdade? E o objetivo deste blog não é ficar dando pitaco em tudo o que eu acho ou desacho, mas sim compartilhar boas reflexões. Então, a partir de agora, eu me comprometo a analisar os casos o quão fundo tiver a possibilidade de ir antes de compartilhá-los aqui. Porque a verdade é que eu realmente não conhecia o trabalho de Lady Gaga tão bem, e continuo não conhecendo, mas agora eu posso promover uma reflexão beeeem mais embasada!!!!


Dois: Lady Gaga definitivamente não quer chocar só por chocar!!! Aliás, diferente de muitos artistas que já passaram pelo cenário musical, o repertório, o discurso e as atitudes da Lady são muitíssimo coerentes, e na maioria das vezes passam uma única mensagem, clara e objetiva: aceitação. A aceitação de todas as diferenças, seja de sexo, etnia, beleza, talento. No show, a Lady compartilha com o público um pouco da sua história, conta que sofreu bullying na infância e que, já na universidade, os professores falavam que ela nunca seria uma estrela porque ela sua feição era "muito étnica". Ela canta uma música especialmente para os gays e brinca com um fã que trouxe para a platéia "o unicórnio gay mais lindo que ela já viu em toda a sua vida". Ela grita o tempo todo, a plenos pulmões, que aquele espaço, o Monster Ball, é para todos os seus super-fãs, não importa como eles sejam, e que, dali para frente, eles tivessem a certeza de que pelo menos uma pessoa no mundo acreditaria neles.


Não seria este o espaço perfeito para Judas? Não é totalmente compreensível agora a paixão da Lady por ele, assim como por todos os injustiçados e desacreditados? Com certeza Judas, na versão de Scorsese ou não, depois de ser "malhado" por 99% da população mundial há mais de 2000 anos, seria o super-fã número 1 da Lady!!! (rs!). Brincadeiras à parte, chocar, as maiores estrelas do rock e do pop sempre procuraram, fazendo as maiores bizarrices possíveis e imagináveis. Mas com certeza, se Lady Gaga não estivesse hasteando esta bandeira e urrando aos nossos ouvidos para acreditarmos em nós mesmos, e ainda confessando que de vez em quando ela própria ainda se acha uma fracassada, mesmo após ser coroada na maior arena da sua cidade natal, ela não conseguiria chegar tão longe e CAUSAR de verdade. Ela se fez heroína, não dos fracos e oprimidos, mas de todos aqueles que estão de saco cheio de tantos rótulos. E com certeza eu também quero um espaço no Monster Ball.

terça-feira, 17 de maio de 2011

PENSAR É TRANSGREDIR

Acho que eu não poderia ter me deparado com um texto mais apropriado para a inauguração deste blog. Então aí está o belíssimo "Pensar é transgredir", de Lya Luft:


"Não lembro em que momento percebi que viver deveria ser uma permanente reinvenção de nós mesmos — para não morrermos soterrados na poeira da banalidade embora pareça que ainda estamos vivos.

Mas compreendi, num lampejo: então é isso, então é assim. Apesar dos medos, convém não ser demais fútil nem demais acomodada. Algumas vezes é preciso pegar o touro pelos chifres, mergulhar para depois ver o que acontece: porque a vida não tem de ser sorvida como uma taça que se esvazia, mas como o jarro que se renova a cada gole bebido.

Para reinventar-se é preciso pensar: isso aprendi muito cedo.
Apalpar, no nevoeiro de quem somos, algo que pareça uma essência: isso, mais ou menos, sou eu. Isso é o que eu queria ser, acredito ser, quero me tornar ou já fui. Muita inquietação por baixo das águas do cotidiano. Mais cômodo seria ficar com o travesseiro sobre a cabeça e adotar o lema reconfortante: "Parar pra pensar, nem pensar!"

O problema é que quando menos se espera ele chega, o sorrateiro pensamento que nos faz parar. Pode ser no meio do shopping, no trânsito, na frente da tevê ou do computador. Simplesmente escovando os dentes. Ou na hora da droga, do sexo sem afeto, do desafeto, do rancor, da lamúria, da hesitação e da resignação.

Sem ter programado, a gente pára pra pensar.


Pode ser um susto: como espiar de um berçário confortável para um corredor com mil possibilidades. Cada porta, uma escolha. Muitas vão se abrir para um nada ou para algum absurdo. Outras, para um jardim de promessas. Alguma, para a noite além da cerca. Hora de tirar os disfarces, aposentar as máscaras e reavaliar: reavaliar-se.


Pensar pede audácia, pois refletir é transgredir a ordem do superficial que nos pressiona tanto.

Somos demasiado frívolos: buscamos o atordoamento das mil distrações, corremos de um lado a outro achando que somos grandes cumpridores de tarefas. Quando o primeiro dever seria de vez em quando parar e analisar: quem a gente é, o que fazemos com a nossa vida, o tempo, os amores. E com as obrigações também, é claro, pois não temos sempre cinco anos de idade, quando a prioridade absoluta é dormir abraçado no urso de pelúcia e prosseguir, no sono, o sonho que afinal nessa idade ainda é a vida.

Mas pensar não é apenas a ameaça de enfrentar a alma no espelho: é sair para as varandas de si mesmo e olhar em torno, e quem sabe finalmente respirar.

Compreender: somos inquilinos de algo bem maior do que o nosso pequeno segredo individual. É o poderoso ciclo da existência. Nele todos os desastres e toda a beleza têm significado como fases de um processo.

Se nos escondermos num canto escuro abafando nossos questionamentos, não escutaremos o rumor do vento nas árvores do mundo. Nem compreenderemos que o prato das inevitáveis perdas pode pesar menos do que o dos possíveis ganhos.

Os ganhos ou os danos dependem da perspectiva e possibilidades de quem vai tecendo a sua história. O mundo em si não tem sentido sem o nosso olhar que lhe atribui identidade, sem o nosso pensamento que lhe confere alguma ordem.

Viver, como talvez morrer, é recriar-se: a vida não está aí apenas para ser suportada nem vivida, mas elaborada. Eventualmente reprogramada. Conscientemente executada. Muitas vezes, ousada.
Parece fácil: "escrever a respeito das coisas é fácil", já me disseram. Eu sei. Mas não é preciso realizar nada de espetacular, nem desejar nada excepcional. Não é preciso nem mesmo ser brilhante, importante, admirado.

Para viver de verdade, pensando e repensando a existência, para que ela valha a pena, é preciso ser amado; e amar; e amar-se. Ter esperança; qualquer esperança.

Questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas mas sem demasiada sensatez. Saborear o bom, mas aqui e ali enfrentar o ruim. Suportar sem se submeter, aceitar sem se humilhar, entregar-se sem renunciar a si mesmo e à possível dignidade.

Sonhar, porque se desistimos disso apaga-se a última claridade e nada mais valerá a pena. Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for.

E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer".

Fonte:
http://pensador.uol.com.br/artigo_de_opiniao_lya_luft/